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A intensidade do treino afeta a vontade de comer

Por todo o mundo debatem-se as melhores estratégias para o FAT LOSS, muitas vezes centradas apenas no treino e na nutrição...

Esquecemo-nos de que mais de 60% da energia que gastamos, corresponde a períodos em que não estamos nem a "mexer" nem a comer.

Todas as estratégias, todas as diretrizes, todas as novas modas e tendências falham porque olham apenas para 40% do processo...

Ponhamos em perspetiva, levámos 2 milhões de anos aprimorando um sistema que ainda hoje nos trama. A espécie humana sobreviveu pela sua incrível capacidade de adaptação. Nós já passámos muita fome! E parar era morrer.

Portanto, durante milhares de anos fizemos travessias enormes de estômago vazio procurando alimento. E assim, conseguimos aperfeiçoar o nosso organismo a ser uma máquina eficiente na gestão de energia (metabolismo).

Qual seria a mensagem que o nosso sistema nervoso recebia quando se deparava com privação de alimento e longas travessias? Poupança de energia, que na prática significa reduzir o metabolismo.

E o que faz o homem do séc XXI para combater a obesidade??

Corta a ração e horas de exercício (cardio/calçadão) com fartura! Que sinal enviamos ao nossos sistemas?

Porque razão pacientes que colocam banda gástrica, passados 12 meses, voltam a recuperar o peso perdido, se ficam com menos 70% do volume do estômago?! Se comem menos, como é possível voltar a ganhar peso?

Enfim, as bandas gástricas são outro assunto… 

Muitas vezes a eficiência e efetividade do treino é sabotada pelos efeitos compensatórios, nomeadamente na ingestão de energia.

Assim, temos mais uma variável em que pensar quando pensarmos em nos exercitar: qual o exercício que dá mais fome? Ou melhor, qual o exercício que nos leva a comer mais GORDURAS?!

Cardio vs Força?

Intensidades baixas vs altas?

Investigadores australianos quiseram comparar o efeito compensatório no comportamento alimentar (sensação de apetite, "gostar e querer", ingestão de comida e preferência de nutrientes), em dois protocolos de treino intervalados: alta e moderada intensidade

Dez homens com sobrepeso e obesos participaram em 2 programas de 4 semanas cada um, separados por 6 semanas de detraining wash-out.

Moderada Intensidade (MIIT): intervalos de 5min a 20% do trabalho (joules) aos 45%VO2peak, ou seja 9% VO2?!

Alta Intensidade (HIIT): Intervalos de 30seg a 90%VO2peak e 30s de pausa, durante 30-45min

O primeiro dado que salta logo à vista é que o grupo MIIT pedalou mais do dobro e durante mais do dobro do tempo do HIIT. Não será aborrecido?

Registou-se uma tendência compensatória no grupo MIIT, comparando com o HIIT, no que respeita ao desejo de comer e consumo de gordura após a intervenção.

Verificou-se que o desejo de comer aumentou no MIIT e reduziu no HIIT.

Relativamente ao "gostar e querer", o desejo por alimentos ricos em gordura não doces (HFNS), ricos em gordura e doces (HFSW), baixos em gordura não doces (LFNS), e baixos em gordura e doces (LFSW), para o grupo HIIT manteve-se negativo em todos.

Constatou-se que, após as 4 semanas de intervenção para cada protocolo, a ingestão de energia (em gramas e kcal) apenas foi menor no HIIT.

O consumo de gordura aumentou 38% após MIIT e reduziu 16% após HIIT.

Esta teoria mostra ainda que ambos os protocolos melhoraram a sua eficiência lipolítica (metabolização de gorduras), mas apenas o HIIT reduziu a ingestão de gorduras após a intervenção.

Será que o princípio da supercompensação também se aplica ao substrato energético?? Ou seja, o substrato energético utilizado durante o exercício irá ser, não apenas reposto, mas reforçado??

Então, os protocolos de treino que queimam principalmente gorduras (baixa e moderada intensidade) terão como resposta ingerir mais gorduras?

Calçadão, para que te quero…Para distrair, passar o tempo, disfrutar da natureza, para vender gadgets, para dançar, para fazer novos amigos... ok. FAT LOSS?? Zero!

Este estudo mostra também que o (agora) tão famoso treino intervalado de alta intensidade, tabatas e afins, é muito mais do que usar um timer com buzinas...

Alta intensidade doí, moderada intensidade pode engordar...

Texto de Rui Madeira citando Bento A.

em Int J Sport Nutr Exerc Metab. 2014 Dec;24(6):595-604. doi: 10.1123/ijsnem.2013-0032. Epub 2014 Mar 25. Interval training intensity affects energy intake compensation in obese men. Alkahtani SA1, Byrne NM, Hills AP, King NA.